2011-06-29

"A Cidade dos Mortos" de Sergio Tréffaut em Vila Nova de Famalicão


No passado dia 26 de Maio, o Cineclube de Joane apresentou o documentário sobre a vida num cemitério da cidade do Cairo. O filme foi realizado por Sérgio Tréfaut, que esteve presente na sessão para uma troca de impressões com os espectadores. Tréfaut é filho de pai português e de mãe francesa, tendo vivido em Portugal, Brasil e França. No entanto, a cidade onde passou mais tempo foi Lisboa – cerca de 25 anos. É formado em Filosofia, pela Sorbonne, foi jornalista, fez cinema e teatro, assim como programação cultural - organização de festivais e exposições.

Tréfaut já não é um estreante em matéria de realização de documentários tendo, inclusive, já efectuado vários trabalhos do género sobre a imigração em Lisboa. Mas n’ “A Cidade dos Mortos” o objecto de análise é a vida que circula pelas encruzilhadas do Grande Cemitério – Necrópole – do Cairo, uma micro-cidade dentro da capital egípcia, um cemitério muito especial, habitado por gente… viva.

O realizador após ter situado a execução do trabalho entre 2007 e 2009, antes da tão mediatizada Revolução Jasmin, chamou a atenção para o facto de o tema tratado no filme não ser um fenómeno típico nem do Islão, nem do próprio Egipto, tendo apenas e só a ver com os fenómenos demográficos que se verificaram naquela cidade nos últimos cem anos e que deram origem ao aparecimento deste “nicho social.” Para o realizador, este filme foi uma autêntica viagem alucinatória e a sua execução uma verdadeira saga cheia de obstáculos, atrasos e restrições de toda a espécie.

Nos anos 1960, deu-se o boom demográfico no Egipto (acompanhando a tendência do pós-guerra) acompanhado de um grave problema de habitação no Cairo: as casas escasseavam e o cemitério passou a acolher desalojados da guerra isrelo-árabe. Os governos que se sucederam tentaram, ao longo das décadas seguintes, realojar os habitantes que, entretanto, foram ocupando as casas do cemitério, mas o número de habitantes era tal que tornou aquela resolução particularmente difícil. É, também, uma zona muito próxima do centro nevrálgico da cidade, o que a torna muito apetecível às pessoas que ali se estabeleceram instalando lá, também, a sua forma de sobrevivência (lojas, cafés, oficinas…). Aos olhos de um estrangeiro aquela necrópole não parece um cemitério.”

Quanto ao fenómeno insólito de haver no Cairo um lugar onde o quotidiano dos vivos é acompanhado pelos rituais que envolvem o tratamento dos mortos, instalando as suas casas nos túmulos das famílias que os alugam, Sérgio Tréfaut comenta:

No Egipto, houve sempre uma tradição antiga, de origem faraónica, de visitar os mortos, de “acampar”, no cemitério, junto aos túmulos, de cozinhar no local…Durante o século XIX, deu-se uma fase de grande enriquecimento o que fez com que fossem construídas “casas” junto às sepulturas, onde os familiares habitavam temporariamente com os seus mortos”.

O realizador fez notar, ainda, que este foi um filme “clandestino”, tendo sido inclusive inspirado por um amigo egípcio a residir em Lisboa.

A dificuldade em obter a autorização para fazer este filme deveu-se ao facto de o povo egípcio ser um povo bastante orgulhoso do seu passado e da sua história, não querendo ser exibido no estrangeiro apresentando uma imagem miserável. Depois, há os constrangimentos culturais…”

Foi um vai-e-vem de uma repartição para outra, durante quinze dias. Nunca obtive resposta. Tentou-se obter parcerias com produtoras locais, tentámos ao longo de doía a três meses e, no fim, desistimos. Optámos, então, pela via clandestina. Quando fomos abordados pela polícia, mostrámos o formulário do requerimento da autorização para filmar, dando a ideia que estávamos a tratar do processo. Para todos os efeitos estávamos a tomar providências para obtê-la…

O realizador prosseguiu o debate, em conversa amigável com os espectadores, durante a qual deu a entender que a intenção do filme não foi a de explorar numa perspectiva etnológica, ao estilo National Geographic, mas antes entrar no quotidiano das pessoas que escolheram o cemitério para viver. Para Sérgio Tréfaut, o que sobressai no filme é aquilo que ele pretendia realçar: que aquele é um lugar “vivo”, ao contrário do que é habitual em se tratando de cemitérios.

Ali, o que é interessante é o facto de as pessoas conviverem com a morte de uma forma completamente desdramatizada. E de terem, também, a consciência da desmaterialização do corpo.”

Falando da relação que se estabeleceu entre os locais e a equipa de filmagem o realizador fez notar que:

Um facto curioso é que, independentemente da minha vontade, a relação que se estabelecia com as pessoas é uma relação carinhosa, eles tratam as pessoas por “querido” (habib). Em relação aos estrangeiros, convém desmistificar: os egípcios não são nada anti-cristãos. Embora, para eles, os Judeus sejam o Diabo. No entanto, eu não lhes posso dizer que sou ateu. Eles não conseguem compreender o não-crente. Isto para eles é pior do que ser judeu. No Islão, para lá do Diabo, são os ateus…”.

Após a sessão, a conversa ter-se-ia prolongado pela noite dentro, não fosse o adiantado da hora. Soube a pouco. Ficámos a saber um pouco mais do Egipto profundo. O Egipto que não vem anunciado nos guias turísticos, numa altura em que ainda não sopravam os ventos da mudança…

Cláudia de Sousa Dias

2011-06-12

O Padrinho: Parte II (1974) 6ª feira dia 17 de Junho, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Famalicão, às 21 e 30









Dirigido por
Francis Ford Coppola
baseado no romance homónimo de Mario Puzo


Com Al Pacino e Robert de Niro como Don Michael e Don Vito Corleone, respectivamente. Robert Duvall e Diane Keatton aparecem novamente como Tom Hagen e Kay Corleone.

2011-06-07

Desafio

Imagem desviada do mural da cristina da Casa das Letras no Facebook.




Então e pegando na deixa da minha grande amiga Marta Vaz, aqui vai:


1 - Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?

- Existem vários. Há livros de que sinto saudades (resposta igual à da Marta no planeta que ela própria criou).

2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?

- Muito raro e muito frustrante. Há 7 anos comecei a ler Os Miseráveis e desisti. Este ano peguei nele e devorei-o. Dois mega volumes inteirinhos. Por vezes, é necessário esperar o momento certo para ler um livro. Espero em breve retomar A ilha do dia antes de Umberto Eco que tentei ler e 2001. Ulisses de James Joyce não vou tentar para já.

3 - Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?

- Ui. Impossível de responder!

4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?

- Muitos. Carradas deles.

5- Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?

A Caverna das Ideias de José Carlos Somoza.

6- Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?

- Tinha o hábito de ler tudo... adorava ler, tal como hoje. Anita, contos de Grimm, Perrault, mas o meu preferido foi Andersen. Sempre me interroguei do porquê de a sereia não ficar com o Príncipe. Acho que um dia escreverei um livro sobre esse tema. Na adolescência: Júlio Dinis; Enid Blyton; e policiais “Patricia” de Julie Campbell e “Nancy Drew” de cuja autora não me lembro o nome.

Também lia muita banda desenhada: da Disney (Patinhas, Peninha, Zé Carioca, Pateta…) a Lulu, e a Turma da Mónica (identificava-me com a “dentuça”).

7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?

Eurico, o Presbitero e Amor de Perdição.Provavelmente por causa do estilo. O romantismo não me seduzia mas era leitura obrigatória no 11º ano.

8. Indica alguns dos teus livros preferidos.

Muitos: Os Maias, Eça de Queirós [e todos os outros]; Ensaio sobre a cegueira de José Saramago; A Costa dos Murmúrios, Lídia Jorge; Ficções, José Luis Borges ; O Monte dos Vendavais, Emily Brontë; A última Tentação de Cristo de Nikos Kazantzakis; Filhos e Amantes de D.H. Lawrence, O Doutor Jivago de Boris Pasternak, Seda de Alessandro Baricco; A mulher Certa de Sándor Márai, o fabuloso A Suite francesa de Irène Némirovski (se um dia entrar em Auschwitz atirarei um ramos de cravos vermelhos da dentro da câmara de gás), Diego e Frida e Deserto de JMG Le Clézio, O Paciente Inglês de Micheal Ondaatje. Finalizo com duas bombas-relógio: A Pele de Curzio Malaparte e O milagre segundo Salomé de José Rodrigues Miguéis. E já agora o 2666 de Roberto Bolaño.

9. Que livro estás a ler neste momento?

O siciliano de Mário Puzo. Mas estou morta por acabar para iniciar Thais de Athenas do russo Ivan Efremov.

10. Indica dez amigos para o Meme Literário:

Então aqui vai o desafio a dez bloggers se quiserem embarcar na aventura,

À madalena de http://apanificadoraribeiro.blogspot.com/ ; ao José Mário Silva http://bibliotecariodebabel.com/; à Teresa Sá-Couto http://comlivros-teresa.blogspot.com/; à Rosário, uma verdadeira Diva da blogosfera http://divasecontrabaixos.blogspot.com/ ; à Isabela http://novomundoperfeito.blogspot.com/; à Dalila livre e indomável como o vento do Norte http://farolnoventodonorte.blogspot.com/ à minha querida amiga inominável http://pontodesaturacao.blogspot.com/; a um dos melhores professores de ciência política de há memória http://tempoquepassa.blogspot.com/ ao mentor das quartas malditas no Clube Literário do Porto, Anthero Monteiro http://pracadapoesia.blogspot.com/e a um dos grandes escritores da actualidade Valter Hugo Mãe (cujos livro não mencionei mas que gosto de todos, absolutamente TODOS).