2012-06-13

Tua 4

Photo by Sandra for Resim & Fotoğraf.

PENÉLOPE
( cantata )

1

Sou a Esposa, cercada.
Os anos fluíram como água,
Acostumamo-nos. Aconteceu
Que eu me separei da minha espera
E olhei os Pretendentes, negado
tu. Esqueci-me de mim, esqueci-me
das noites sob as Suas mãos
Como se esquece um sonho até
que volta. Passaram anos
como instantes. Há
Uma espera tal que um se separa.

2

O que chamamos tempo
É talvez embrenhar-se
em incertezas, carências.
O que chamamos tempo
É talvez finalmente renunciar!
Eu esqueço o Seu nome!
Esqueço como me queixava
De desejo, cansada na luz matinal!
Os pretendentes cercam agora a casa.
Eu esqueço! Esqueço
o Seu nome!
A guerra deforma.
A memória reduz!
Cercar ou ser cercada
Afinal é o mesmo. Mas
negar um abraço
como a água derramada?
Ai, pudesse eu sequer vislumbrar
O teu esqueleto na multidão!

3

Ossos pêlos plumas escamas!
Os anos passam alegremente e faz-se noite
Invioláveis são as leis dos minerais
Na terra, as vistosas superfícies estalam:
Sobre o rosto sem custódia que era o do sonho
Sobre o rosto sem custódia que era a máscara sem custódia
Dos sonhos

4

Um corpo é levar um baú
Com relíquias. Ossos como porcelana
Eu não sou ainda uma mulher
Velha, isso enfada-me.
Teço uma teia. Sonhei
Ontem à noite com um barco que ia à deriva
Para uma costa longínqua
Recordas-me? O que
volta é sempre outro
Com a sombra de guerras no rosto
Com cicatrizes de todo o estrangeiro
Gravadas no corpo
Quem volta como era?
O que se perdeu é real:
O que se perdeu conserva-o
para sempre. Uma espera,
Um homem. Recordas-me?
Apressa-te, se podes.

Tua Forsström
in Snoleopard, 1987

Tradução de Amadeu Baptista

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