2012-06-13

Tua 5


Escrevo aos meus médicos, pergunto-lhes
sobre a amizade, a chuva torrencial, o menino
que se senta na cama e sussurra: por que
vieste sem?
Ocasionalmente os sonhos deixam-se desmascarar
Mas, onde te vou pôr, em qual
dos meus quartos?
“ A vida é uma preparação para algo
que nunca acontece”.
Não apanhes frio! Não te sintas mal! Senta-te bem! Sê boa
para o teu filho! Evita penas desnecessárias!
Aqui as filhas estão praticamente à borda d’água
entre amieiros, e cicuta, salgueirinha,
uma paisagem lacustre raramente matizada pelas tempestades
Só aquele que muda continua
sendo o mesmo, é isso ao certo? A chuva
goteja na água, água na água. Chuva de semanas
Uma está de vigilante de noite. Vai de vigilante de greve,
não sabe de todo o que tem que vigiar!
Mas uma borboleta alonga as manchas dos seus olhos
Um alce passa deslizando sem ruído, pesadamente
Flores de humidade brotam do papel de parede
Não, tu foste o meu querido e irrealizável projecto
e eu sou uma pobre, fechada na minha cabeça de escassos cabelos
O que tem alguma importância é tanto e
tão pouco
Mas aqui o mundo esclarece-se como
natureza, a vida esclarece-se!, no resplendor dos faróis de uma



segadora
sobre metros e metros de um trigal tardio que se agita inquieto Um
resplandecente insecto nocturno E o longínquo
faz-se um pouco mais real.

Tua Forsström
in September, 1983

Tradução de Amadeu Baptista

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